Pesquisa | Instituto Polivagal

“Se você quer melhorar o mundo, comece fazendo com que as pessoas se sintam mais seguras”
Stephen Porges

DESCRIÇÃO DE PORGES EM SEU ULTIMO ARTIGO

"As teorias florescem apenas se forem úteis na descrição de fenómenos que possam informar futuras investigações. É claro que as teorias devem ser modificadas e informadas pela investigação empírica e, quando necessário, substituídas por teorias alternativas que sejam mais eficazes na explicação dos fenómenos que ocorrem naturalmente. Se usarmos isso como um padrão aceitável, então a TPV [Teoria Polivagal] fornece um modelo testável que descreve como o sistema nervoso autônomo dos mamíferos reage à ameaça e à segurança. A teoria fornece especificamente uma compreensão das principais características do SNA [sistema nervoso autônomo] dos mamíferos, necessárias para co-regular e confiar nos outros. Também fornece insights sobre as consequências do estado autonômico para a saúde física e mental. Talvez o mais importante seja que a teoria dê voz às experiências pessoais de indivíduos que sofreram ameaças crónicas (ou seja, traumas e abusos) ou doenças e estruture uma jornada optimista em direcção a uma saúde física e mental mais óptima." (Porges, 2023)

Relatos momentâneos diferenciais de estresse e afeto associados ao consumo de álcool em adultos de meia-idade versus adultos mais jovens

Peterson-Sockwell, H., Rejeski, W. J., Fanning, J., Porges, S. W., Heilman, K. J., Laurienti, P. J., & Gauvin, L. (2023). Differential momentary reports of stress and affect associated with alcohol consumption in middle-aged versus younger adults. Substance Use & Misuse, 58(5), 666-675. doi: https://doi.org/10.1101/2021.10.25.465757

Artigo original

Objetivo: O estresse é um motivador para o consumo de álcool, um risco de recaída já documentado, e é conhecido por afetar diferentemente os processos biológicos e psicológicos à medida que as pessoas envelhecem. Como se sabe que o consumo de álcool diminui o estresse e aumenta o afeto, este estudo examinou as diferenças nas classificações de estresse e afeto ao longo do dia em adultos de meia-idade versus adultos mais jovens que consumiam álcool regularmente.

Métodos Uma amostra de homens e mulheres, incluindo participantes mais jovens (n=17) e de meia-idade (n=18), foi estudada em dois períodos experimentais: um período de 3 dias de consumo habitual e um período de 3 dias de abstinência de álcool. Também medimos os níveis de arritmia sinusal respiratória em repouso (ASR-rest), uma vez que é um biomarcador de estresse bem documentado e conhecido por diminuir com a idade. As classificações da avaliação ecológica momentânea (EMA) ao longo dos períodos de consumo normal e de abstinência foram modeladas usando regressão hierárquica para avaliar as diferenças no estresse e no afeto ao longo dos dias de abstinência e consumo normal entre as duas faixas etárias.

Resultados: Como previsto, os participantes de meia-idade tiveram ASR-rest mais baixo do que os mais jovens. Nossas análises mostraram que os adultos de meia idade experimentaram uma redução significativa no estresse após beber, enquanto tal efeito não foi observado nos adultos mais jovens. Embora os adultos de meia-idade apresentassem um nível global de stress mais baixo, geralmente também expressavam maior afeto do que os adultos mais jovens.

Associações entre características acústicas da fala materna e regulação emocional dos bebês após um estressor social

Kolacz, J., daSilva, E. B., Lewis, G. F., Bertenthal, B. I., & Porges, S. W. (2022). Associations between acoustic features of maternal speech and infants’ emotion regulation following a social stressor. Infancy, 27(1), 135-158. doi: https://doi.org/10.1101/2021.07.02.450379

Artigo original

As vozes dos cuidadores podem fornecer dicas para mobilizar ou acalmar os bebês. Este estudo examinou se a prosódia materna previu mudanças no estado biocomportamental dos bebês durante o Still Face, um estressor em que a mãe se retrai e restabelece o envolvimento social. Noventa e quatro díades participaram do estudo (crianças de 4 a 8 meses). A frequência cardíaca e a arritmia sinusal respiratória dos bebês (medição do tônus vagal cardíaco) foram derivadas de um eletrocardiograma (ECG). O sofrimento comportamental dos bebês foi medido por vocalizações negativas, expressões faciais e aversão ao olhar. As vocalizações das mães foram medidas com análise espectral e modulação espectrotemporal usando uma transformação rápida bidimensional de Fourier do espectrograma de áudio. Valores elevados no composto de prosódia materna foram associados a diminuições na frequência cardíaca dos bebês (β=-0,26, IC 95%: [-0,46, -0,05]) e sofrimento comportamental (β=-0,20, 95 IC%: [-0,38, -0,02]) e aumentos no tônus vagal cardíaco em bebês cujo tônus vagal estava baixo durante o estressor (1 DP abaixo da média β = 0,39, IC 95%: [0,06, 0,73 ]) . A alta frequência cardíaca infantil previu aumentos no composto de prosódia materna (β = 0,18, IC 95%: [0,03, 0,33]). Esses resultados sugerem características acústicas vocais específicas da fala que são relevantes para regular o estado biocomportamental dos bebês e demonstram a dinâmica bidirecional mãe-bebê.

A regulação biocomportamental dos bebês depende fortemente das interações com os cuidadores, o que prepara o terreno para o desenvolvimento de uma autorregulação crescente com a idade (Feldman, 2007a; Tronick, 1989). As características acústicas das vozes dos cuidadores podem ser uma influência fundamental nos estados dos bebés (Spinelli, Fasolo, & Mesman, 2017) e estas características são enfatizadas em múltiplos modelos teóricos de interacções bebé-cuidador (Feldman, 2007a; Tronick, 1989; Welch & Luís, 2017). Pesquisas anteriores mostram que a ocorrência da vocalização do cuidador, a contingência, o uso da fala e do canto direcionados ao bebê e o conteúdo emocional avaliado pelos juízes refletem aspectos salientes das interações cuidador-bebê (Goldstein, Schwade, & Bornstein, 2009; Shenfield, Trehub, & Nakata, 2003). No entanto, características acústicas prosódicas específicas – aquelas que constituem a base dos componentes emocionais e afetivos das vocalizações – têm recebido pouca atenção. Neste estudo, utilizamos previsões baseadas na Teoria Polivagal (Porges, 1995, 2001, 2007), uma estrutura neurofisiológica evolutiva, para informar a seleção de frequência e características acústicas espectro-temporais que refletem características prosódicas em humanos. Em seguida, examinamos como as características prosódicas maternas facilitam a regulação biocomportamental dos bebês após um estressor social – o Paradigma da Face Imóvel (SFP; Tronick, Als, Adamson, Wise, & Brazelton, 1978).

O presente estudo é o primeiro a usar uma nova medida composta de prosódia, teoricamente informada, baseada nas bandas de frequência e na modulação da voz para estudar a dinâmica naturalística das características vocais do cuidador e do estado biocomportamental do bebê. Os resultados, quando tomados em conjunto, sugerem que o bebê e o cuidador co-regulam o estado após um desafio perturbador, com os níveis de prosódia materna ajustando-se dependendo do estado do bebê e, por sua vez, prevendo diminuições no sofrimento biocomportamental do bebê. Estas descobertas expandem as conceptualizações do mecanismo de regulação emocional diádica no início da vida dos bebés, apontando para novas pesquisas e potenciais oportunidades de intervenção para cuidadores e bebês.

Desenvolvimento da co-regulação mãe-bebê: O papel do tônus vagal e do temperamento do bebê aos 6, 9 e 12 meses de idade

Porter, C. L., Yang, C., Jorgensen, N. A., & Evans-Stout, C. (2022). Development of mother-infant co-regulation: The role of infant vagal tone and temperament at 6, 9, and 12 months of age. Infant Behavior and Development, 67, 101708. doi: https://doi.org/10.1016/j.infbeh.2022.101708

Artigo original

Usando a Teoria Polivagal de Porges (2011) como pano de fundo, este estudo examinou se as mudanças no funcionamento parassimpático, conforme indexado pelas medidas basais do tônus vagal cardíaco aos 6, 9 e 12 meses de idade, estavam ligadas a mudanças nos bebês (N = 101) co-regulação diádica nesses mesmos pontos de tempo. Mães e bebês foram observados em cada momento durante uma brincadeira livre não estruturada de 15 minutos e padrões co-regulados de interações foram codificados usando o Sistema de Codificação Relacional Revisado (Fogel et al., 2003). As análises foram realizadas usando modelagem de curva de crescimento multiprocesso para examinar medidas basais (interceptações) e mudanças (inclinações) no tônus vagal, co-regulação, bem como o relato das mães sobre o temperamento infantil. Os resultados demonstram ligações entre o tônus vagal dos bebês e as mudanças na co-regulação mãe-bebê. Especificamente, os níveis crescentes de tônus vagal cardíaco foram relacionados a aumentos em padrões simétricos, mas diminuições em padrões unilaterais de co-regulação ao longo do tempo. Estas descobertas sugerem que as mudanças no sistema nervoso autónomo provavelmente reforçam a capacidade dos bebés de se envolverem em padrões de co-regulação mais mutuamente sustentados.

Maus-tratos na infância influenciam a regulação autonômica e a saúde mental em estudantes universitários

Dale, L. P., Kolacz, J., Mazmanyan, J., Leon, K. G., Johonnot, K., Bossemeyer Biernacki, N., & Porges, S. W. (2022). Childhood maltreatment influences autonomic regulation and mental health in college students. Frontiers in psychiatry, 13, 841749. doi: https://doi.org/10.3389/fpsyt.2022.841749

Artigo original

A história de maus-tratos na infância pode influenciar a reatividade autonômica e a recuperação aos estressores. Hipoteticamente, a história de maus-tratos pode contribuir para um sistema nervoso autônomo reajustado que se reflete em uma nova métrica, a eficiência vagal (EV), projetada para avaliar a eficiência funcional das vias cardioinibitórias vagais na frequência cardíaca. Nós exploramos se a EV media a relação bem documentada entre histórico de maus-tratos e sintomas psiquiátricos. Também investigamos a relação entre medidas de regulação autonômica em resposta aos desafios físicos e emocionais e aos sintomas psiquiátricos. Os participantes (n = 167) completaram medidas de auto-relato de sintomas psiquiátricos e tiveram a frequência cardíaca contínua monitorada antes, durante e após estressores físicos e emocionais. Os participantes com histórico de maus-tratos apresentaram menor EV, o que mediou a associação do histórico de maus-tratos e os sintomas psiquiátricos de ansiedade e depressão. Consistente com a literatura anterior, houve associações significativas entre histórico de maus-tratos e reatividade autonômica (isto é, frequência cardíaca e arritmia sinusal respiratória) durante desafios emocionais e físicos; no entanto, quando a EV foi inserida como covariável, essas associações não foram mais estatisticamente significativas. A EV embotada pode refletir uma via neural através da qual os maus-tratos reajustam a regulação autonômica e fornecem uma plataforma neurofisiológica que aumenta o risco à saúde mental.

Nossas descobertas são consistentes com a Teoria Polivagal (9–11), que propõe que após experiências traumáticas a regulação neural do “freio vagal” pode se tornar desregulada (ou seja, amortecida), o que pode levar a uma regulação autonômica menos eficaz e dificuldades em retornar o corpo a uma linha de base calma (ou seja, regulada vagal ventral) após vivenciar um estressor. Vários estudos relataram uma associação entre histórico de trauma e funcionamento autonômico atípico ou interrompido que leva a um sistema nervoso autônomo intensificado ou potencialmente desestabilizado, refletindo uma incapacidade de retornar a um estado mais homeostático (50–52).

É importante reconhecer que a história de maus-tratos também pode influenciar o ramo simpático do sistema nervoso autônomo. Embora nenhuma medida independente do tônus simpático tenha sido monitorada, uma contribuição simpática pode ser inferida a partir dos dados da frequência cardíaca, porque neurofisiologicamente a frequência cardíaca é determinada pelas influências simpática e vagal. Se assumirmos que a EV está efetivamente capturando a influência dinâmica das vias vagais na frequência cardíaca, então o uso da EV como covariável sugere que algumas das alterações restantes na frequência cardíaca podem ser devidas à influência simpática. Os resultados das análises covariáveis apoiam esta especulação e documentam uma relação entre sintomas clínicos (ansiedade e TEPT) e tanto a reatividade da HP como a recuperação ao desafio físico.

Ao interpretar esses resultados, é importante considerar as limitações deste estudo. O uso de uma amostra não clínica de estudantes universitários retirados de um grupo de participantes introdutórios à psicologia em uma universidade privada exige a necessidade de estudos de replicação em amostras clínicas e não universitárias. Além disso, o histórico de maus-tratos e os dados de sintomas foram obtidos através de medidas de autorrelato que podem ter sido afetadas pela desejabilidade social e pelas imprecisões de memória. Embora os resultados sejam consistentes com a Teoria Polivagal, o desenho transversal deste estudo não nos permite determinar se a EV é um determinante causal na relação entre história de maus-tratos e sintomatologia. Além disso, a falta de uma medida independente da ativação simpática limita a interpretação da dinâmica entre as influências simpática e vagal. Assim, pesquisas futuras devem ser longitudinais, utilizar amostras maiores e mais diversas, realizar entrevistas clínicas, obter uma medida independente do tom simpático e utilizar medidas objetivas de sintomatologia.

Apesar destas limitações, os resultados destacam a importância de utilizar uma perspectiva biopsicossocial ao examinar ou prever a resiliência, uma vez que tanto os fatores fisiológicos como os ambientais se relacionam com o funcionamento e a experiência dos sintomas (53, 54) e podem ter impacto ou alterar as reações ao estresse. As diferenças na regulação autonômica observadas por aqueles que sofreram maus-tratos sugerem que a regulação do estado autonômico pode ser um importante alvo de intervenção para trauma e TEPT, o que poderia ser apoiado pela inclusão de métodos de baixo para cima baseados no corpo como parte da terapia (55, 56 ).

Respostas ao estresse e comportamentos de protesto dos bebês na entrada na creche e o papel dos prestadores de cuidados

Ahnert, L., Eckstein‐Madry, T., Piskernik, B., Porges, S. W., & Lamb, M. E. (2021). Infants’ stress responses and protest behaviors at childcare entry and the role of care providers. Developmental Psychobiology, 63(6), e22156.

doi: https://doi.org/10.1002/dev.22156

Artigo original

Durante a transição de casa para o cuidado dos filhos, 70 bebês de 15 meses foram filmados e suas emoções negativas foram avaliadas. Os apegos dos bebés às mães foram avaliados antes da entrada nos cuidados infantis e aos prestadores de cuidados cinco meses depois, utilizando o Procedimento para Situações Estranhas (SSP). A frequência cardíaca infantil foi monitorada em casa, durante a adaptação aos cuidados infantis (mães presentes) e durante as separações subsequentes. A arritmia sinusal respiratória (ASR) foi calculada a partir das medidas batimento a batimento da frequência cardíaca para refletir o tônus vagal, que é reduzido durante estados crônicos de estresse, e foi coletada na chegada, durante brincadeiras em grupo e quando no grupo de forma geral. Todos os bebês responderam à entrada na creche com baixos níveis de ASR, indicando estresse. No entanto, durante a adaptação com a mãe presente, a ASR foi maior para os bebês com apego seguro. No primeiro dia da separação, 35,3% dos bebês estavam agitados e choravam muito. Estes protestos intensos previram ligações seguras posteriores aos prestadores de cuidados, o que ajudou de forma adaptativa a reduzir o stress, especialmente em bebés que protestaram extensivamente, como se chamassem as suas mães de volta. Dado que protestos extensos sugerem capacidades reguladoras limitadas, os bebés correm o risco de sobrecarregar o sistema de estresse quando não são apoiados.

Em suma, os efeitos reguladores da interacção mãe-filho que foram perturbados pela separação materna criaram inevitavelmente estresse com o qual os bebés lidaram sozinhos (como fizeram os bebés inseguros) ou com a ajuda de outros. As ligações seguras aos prestadores de cuidados foram assim fomentadas por circunstâncias estressantes, embora tais ligações tenham posteriormente ajudado os bebês a regular o estresse. Os dados aqui relatados sugerem que os bebês podem regular o estresse na ausência das suas mães quando recebem cuidados substitutos sensíveis, desenvolvendo mesmo competência reguladora em tais circunstâncias.

Durante as separações entre mãe e filho, os prestadores de cuidados devem ajudar a regular negativamente os níveis de estresse, especialmente em bebês que protestam extensivamente e só querem as suas mães de volta. Como os protestos extensivos parecem indicar capacidades reguladoras limitadas, os bebês correm o risco de sobrecarregar o sistema de estresse quando não são apoiados. Embora pareça razoável esperar que o pico de estresse ocorra quando as crianças são deixadas na creche, não determinamos se houve aumento dos níveis de estresse (conforme indexado pela ASR) ao longo do dia. Alternativamente, as mudanças dinâmicas na ASR durante a perturbação transitória e a recuperação do estado autonômico ao longo de horas e dias de separação mãe-filho, em vez de indexar a carga de estresse, podem fornecer um portal para estudar o desenvolvimento da resiliência. Esta limitação do estudo deve ser superada por mais pesquisas envolvendo monitoramento da frequência cardíaca de várias horas e de vários dias.

Influência da variabilidade da frequência cardíaca nas mudanças relacionadas à abstinência no estado cerebral em consumidores diário de álcool

Peterson, H., Mayhugh, R. E., Bahrami, M., Rejeski, W. J., Simpson, S. L., Heilman, K., ... & Laurienti, P. J. (2021). Influence of Heart Rate Variability on abstinence-related changes in brain state in everyday drinkers. Brain Sciences, 11(6), 817. doi: https://doi.org/10.3390/brainsci11060817

Artigo original

O consumo de álcool é agora uma prática comum em todo o mundo, e as redes cerebrais funcionais estão começando a revelar as complexas interações observadas com o consumo de álcool e a abstinência. O sistema nervoso autônomo (SNA) tem uma relação bem documentada com o uso de álcool, e um crescente corpo de pesquisas está encontrando ligações entre o SNA e as redes funcionais do cérebro. Este estudo recrutou bebedores diários em um esforço para descobrir a relação entre a abstinência de álcool, a função do SNA e as redes cerebrais funcionais do cérebro inteiro. Os participantes (n = 29), de 24 a 60 anos de idade, consumiam níveis moderados de álcool regularmente (homens 2,4 (±0,26) bebidas/dia, mulheres 2,3 (±0,96) bebidas/dia). A função do SNA, especificamente o tônus vagal cardíaco, foi avaliada pelo método de Porges-Bohrer para cálculo da arritmia sinusal respiratória (PBRSA). Redes cerebrais funcionais foram geradas a partir de exames de ressonância magnética em estado de repouso obtidos após períodos de 3 dias de consumo típico e abstinência. Um modelo de regressão multitarefa de efeitos mistos determinou as influências da VFC e do estado de consumo de álcool na conectividade da rede funcional. Os resultados mostraram diferenças na relação entre a força das conexões de rede e os coeficientes de agrupamento entre os estados de consumo, moderados pelo PBRSA. Aumentos na força da conexão entre nós altamente agrupados durante a abstinência à medida que o PBRSA aumenta demonstra uma maior gama possível de configurações topológicas em altos valores de PBRSA. Esta nova descoberta começa a lançar luz sobre as complexas interações entre a abstinência típica do álcool e as respostas fisiológicas do sistema nervoso central e autônomo.

O consumo regular de álcool é uma prática comum em nosso mundo hoje. O maior estudo sobre o uso de álcool até o momento descobriu que pelo menos 60% da população dos EUA consome de 1 a 3 bebidas alcoólicas por dia [1]. O objetivo do presente estudo foi examinar as mudanças na estrutura funcional da rede cerebral impulsionadas pela função do sistema nervoso autônomo observadas durante um período de abstinência de álcool, mas à medida que o conhecimento é adquirido sobre essas bases neurobiológicas, há potencial para um impacto significativo na pesquisa focada em não -Bebedores de AUD ou sofredores de AUD. Em última análise, a compreensão das questões clínicas relacionadas ao consumo de álcool depende da nossa compreensão dos mecanismos básicos subjacentes às relações cérebro-comportamento. Uma compreensão da interação entre o SNA e as adaptações neurais centrais em torno da abstinência do álcool é essencial para compreender preocupações mais clínicas e pode levar à descoberta de assinaturas para potenciais alvos de diagnóstico, prognóstico e tratamento em estudos com foco clínico. No geral, este estudo documentou mudanças na topologia funcional da rede cerebral em estados de consumo dependentes da função do SNA. Os resultados mostraram que, embora as redes cerebrais difiram entre estados de consumo de álcool em consumidores de risco, a mudança é impulsionada principalmente pela VFC, medida através do PBRSA.

Aumento da reatividade autonômica e dificuldades de saúde mental em sobreviventes de COVID-19: implicações para prestadores de serviços médicos

Dale, L. P., Cuffe, S. P., Kolacz, J., Leon, K. G., Bossemeyer Biernacki, N., Bhullar, A., ... & Porges, S. W. (2022). Increased autonomic reactivity and mental health difficulties in COVID-19 survivors: Implications for medical providers. Frontiers in psychiatry, 13, 830926.. doi: https://doi.org/10.3389/fpsyt.2022.830926

Artigo original

Antecedentes: Como existe uma relação entre saúde mental (SM) e adversidades médicas e desregulação autonômica, levantamos a hipótese de que indivíduos infectados com COVID-19 relatariam maior reatividade autonômica atual e mais dificuldades de HM (sofrimento emocional, dificuldades de atenção plena e estresse pós-traumático). Também levantamos a hipótese de que os indivíduos diagnosticados com COVID-19 que estão enfrentando dificuldades relacionadas às suas adversidades anteriores e aqueles que prestam cuidados médicos a pacientes com COVID-19 seriam mais impactados negativamente devido ao aumento do estresse e das taxas de infecção.

Método: Participantes dos EUA (N = 1.638; 61% mulheres; Idade M = 46,80) completaram medidas de autorrelato on-line de adversidades anteriores, reatividade autonômica atual e dificuldades atuais de HM, e histórico de diagnóstico de COVID-19. Os participantes diagnosticados com COVID-19 (n = 98) tinham maior probabilidade de serem mais jovens e prestarem cuidados médicos a pacientes com COVID-19.

Resultados: Indivíduos diagnosticados com COVID-19 relataram aumento da reatividade autonômica atual, sendo mais impactados negativamente por suas adversidades médicas/HM anteriores e atualmente enfrentando mais dificuldades de HM com maior probabilidade de TEPT e depressão clinicamente significativos (p < 0,01 – p < 0,001). A reatividade autonômica atual mediou 58,9% a 85,2% da relação entre adversidades anteriores e dificuldades atuais de HM; e o diagnóstico de COVID-19 moderou e aumentou o efeito de adversidades anteriores na reatividade autonômica atual (p < 0,01). Ser médico foi associado ao aumento da reatividade autonômica atual (p < 0,01), ao mesmo tempo que moderou e melhorou a relação entre a reatividade autonômica atual e o sofrimento emocional e os sintomas de estresse pós-traumático (p < 0,05). Combinar o diagnóstico de COVID-19 com ser médico aumentou a probabilidade de TEPT e depressão clinicamente significativos (p < 0,01).

Desenvolvimento do sistema nervoso autônomo e seu impacto no resultado neuropsiquiátrico

Mulkey, S. B., & du Plessis, A. J. (2019). Autonomic nervous system development and its impact on neuropsychiatric outcome. Pediatric Research, 85(2), 120-126. doi: https://doi.org/10.1038/s41390-018-0155-0

Artigo original

O sistema nervoso autônomo central (SNA) é essencial para manter a homeostase cardiovascular e respiratória no recém-nascido e tem um papel crítico no apoio às funções corticais superiores. Ao nascimento, o SNA central está em maturação e é vulnerável a influências ambientais e fisiológicas adversas. Conexões críticas são formadas no início do desenvolvimento entre o SNA e o sistema límbico para integrar as respostas psicológicas e corporais. A Teoria Polivagal, desenvolvida por Stephen Porges, descreve como a modulação do impulso vagal autonômico controla as respostas sociais e que uma ampla gama de distúrbios neuropsiquiátricos pode ser devida ao equilíbrio vagal prejudicado, com tônus vagal deficiente ou reatividade vagal excessiva. Sob circunstâncias adicionais de prematuridade, restrição de crescimento e estresse ambiental no feto e no recém-nascido, o SNA imaturo pode sofrer “dismaturação”. O estresse e a saúde materna, bem como o ambiente intrauterino, também são bastante importantes e têm sido implicados em causar alterações do SNA no bebê e doenças neuropsiquiátricas em crianças. Esta revisão cobrirá os aspectos do desenvolvimento e maturação do SNA que têm sido associados a distúrbios neuropsiquiátricos em crianças.

Fatores maternos, epigenética e ambiente intrauterino, bem como a experiência pós-natal precoce, moldam o desenvolvimento do SNA e do sistema límbico. A disfunção ou dismaturação desses sistemas está implicada no desenvolvimento subsequente de distúrbios neuropsiquiátricos na infância. Para abordar a elevada e crescente prevalência destas perturbações em crianças, é claramente indicada uma revisão cuidadosa das estratégias para promover o desenvolvimento normal do SNA sob condições adversas, como a prematuridade. Um melhor apoio à mãe, ao feto e ao bebé, através da redução do estresse, da nutrição e de melhorias ambientais, pode melhorar os percursos mediados pelo SNA associados à saúde mental das crianças e melhorar os seus resultados a longo prazo. Mais estudos são necessários para orientar o manejo clínico e ambiental do recém-nascido doente com o objetivo de melhorar o desenvolvimento do SNA.

A regulação autonômica de bebês prematuros é melhorada pela intervenção de criação familiar

Porges, S. W., Davila, M. I., Lewis, G. F., Kolacz, J., Okonmah‐Obazee, S., Hane, A. A., ... & Welch, M. G. (2019). Autonomic regulation of preterm infants is enhanced by Family Nurture Intervention. Developmental psychobiology, 61(6), 942-952. doi: https://doi.org/10.1002/dev.21841

Artigo original

Bebês prematuros apresentam atrasos maturacionais em vários sistemas neurocomportamentais. Este estudo avalia o impacto da Intervenção de Nutrição Familiar (FNI) na unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN) na maturação da regulação autonômica de bebês prematuros. Bebês prematuros nascidos com 26 a 34 semanas de idade pós-menstrual (PMA) foram divididos em grupos que receberam tratamento padrão (SC) ou SC mais FNI, usando um desenho de ensaio clínico randomizado. Em dois momentos de coleta, aproximadamente 35 semanas e 41 semanas de PMA, os eletrocardiogramas (ECG) foram monitorados por aproximadamente 1 hora durante o sono. A frequência cardíaca e a arritmia sinusal respiratória (ASR) foram quantificadas no ECG. Nos dois momentos, o grupo FNI apresentou maiores aumentos na ASR (d de Cohen = 0,35) e inclinação entre a ASR e a frequência cardíaca, como medida de eficiência vagal (d de Cohen = 0,62). Estes resultados documentam que a FNI resultou em maior regulação autonômica consistente com maior maturação da função cardíaca. Estas e outras descobertas sugerem fortemente que facilitar as interações precoces de criação e a ligação emocional entre os bebês prematuros e as suas mães é um meio praticável e eficaz de otimizar o desenvolvimento pós-natal dos bebês prematuros. A interpretação desses resultados da função autonômica também enriquece nossa compreensão dos potenciais resultados benéficos a longo prazo da IAN, baseando-se na teoria polivagal, que explica como o estado autonômico fornece uma plataforma neurofisiológica para a co-regulação ideal entre o bebê e o cuidador, e recorrendo à calma. teoria do ciclo, que fornece um modelo para a compreensão de como repetidas interações calmantes entre mãe e bebê condicionam positivamente o estado autonômico e reforçam comportamentos pró-sociais de abordagem.

Dor crônica difusa e distúrbios gastrointestinais funcionais após estresse traumático: fisiopatologia através de uma perspectiva polivagal

Kolacz, J., & Porges, S. W. (2018). Chronic diffuse pain and functional gastrointestinal disorders after traumatic stress: pathophysiology through a polyvagal perspective. Frontiers in Medicine, 5, 145. doi: https://doi.org/10.3389/fmed.2018.00145

Artigo original

Distúrbios de dor difusa crônica, como fibromialgia, e distúrbios gastrointestinais funcionais (FGIDs), como a síndrome do intestino irritável, representam um fardo substancial para as pessoas afetadas e para o sistema médico. Apesar de seu impacto considerável, sua fisiopatologia é pouco compreendida. Em contraste com uma abordagem que se concentra na correlação entre a variabilidade da frequência cardíaca (VFC) e um órgão ou sintoma específico, propomos que uma resposta autonômica relacionada à ameaça bioevolutiva - conforme descrito na Teoria Polivagal - pode servir como uma explicação plausível de como a VFC, particularmente a arritmia sinusal respiratória (ASR), indexaria a fisiopatologia desses distúrbios. As evidências vêm de: (1) a regulação autonômica atípica bem documentada do coração, comum à fibromialgia e à síndrome do intestino irritável, refletida na ASR amortecida, (2) à arquitetura neural que integra o coração, as vias da dor e o trato gastrointestinal, (3) ) as comorbidades físicas comuns compartilhadas pela dor crônica difusa e FGIDs, muitas das quais são funcionalmente reguladas pelo sistema nervoso autônomo, (4) o risco elevado de dor crônica difusa e FGIDs após estresse traumático ou abuso, (5) e o risco elevado de dor crônica difusa e FGIDs em indivíduos com transtornos de ansiedade e pânico. Esta nova conceituação aponta para uma patogênese enraizada em mudanças nos ciclos de feedback autônomo cérebro-corpo em resposta a sinais de ameaça evolutivamente relevantes, fornecendo um modelo biopsicossocial integrado de dor crônica difusa e FGIDs e sugerindo novas estratégias de tratamento não farmacológico.

A estrutura neurofisiológica evolutiva da teoria polivagal fornece um modelo plausível para dor crônica pós-traumática e distúrbios gastrointestinais funcionais com base em respostas sistêmicas do cérebro-corpo à segurança e à ameaça. Esta estrutura fornece uma perspectiva integrativa que une múltiplos fenômenos concomitantes em relatórios perceptivos e neurofisiológicos, embora ainda permaneça muita variabilidade individual. Embora a FM e a SII compartilhem um substrato neurofisiológico com sistemas de resposta a ameaças, a heterogeneidade dos sintomas é a regra e não a exceção, o que provavelmente reflete interações com estruturas cerebrais de nível superior, processos neuroendócrinos e imunológicos [por exemplo, 89)]. No entanto, esta revisão destaca o potencial do sistema nervoso autónomo para ser a base para a organização e síntese de observações feitas por médicos, profissionais de saúde mental e neurocientistas para reunir os mecanismos que ligam experiências traumáticas, função do sistema nervoso relacionada com ameaças. e múltiplos distúrbios somáticos. As conversas sobre a história do trauma entre pacientes e médicos podem ser críticas para a interpretação dos sintomas e o desenvolvimento de planos de tratamento, mas estas conversas são raras (26). Ao construir uma melhor compreensão das alterações sistémicas crónicas do sistema nervoso que podem ser induzidas pelo trauma, a comunidade médica pode avançar no sentido de explicar comorbilidades e desenvolver tratamentos direcionados.

Depressão e variabilidade da frequência cardíaca em estado de repouso em crianças e adolescentes — Uma revisão sistemática e meta-análise

Koenig, J., Kemp, A. H., Beauchaine, T. P., Thayer, J. F., & Kaess, M. (2016). Depression and resting state heart rate variability in children and adolescents—A systematic review and meta-analysis. Clinical psychology review, 46, 136-150. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.cpr.2016.04.013

Artigo original

Entre adultos, a depressão está associada à redução da atividade vagal, conforme indexado pela variabilidade da frequência cardíaca de alta frequência [IC-VFC], que se correlaciona inversamente com a gravidade da depressão. As evidências disponíveis em crianças e adolescentes deprimidos ainda precisam ser revisadas sistematicamente. Foi realizada uma pesquisa na literatura para identificar estudos que relatassem (i) IC-VFC em crianças/adolescentes clinicamente deprimidos em relação aos controles (k = 4, n = 259) e (ii) a associação entre IC-VFC e sintomas depressivos. conforme medido por instrumentos psicométricos padronizados em crianças e adolescentes (k = 6, n = 2.625). A meta-análise de efeitos aleatórios sobre diferenças de grupo revelou efeitos significativos que foram associados a um tamanho de efeito moderado (g de Hedges = -0,59; IC 95% [-1,05; -0,13]), indicando menor IC-VFC em estado de repouso entre crianças/adolescentes clinicamente deprimidos (n = 99) em comparação com controles saudáveis (n = 160), consistente com os achados entre adultos. Embora não tenha sido observada correlação entre IC-VFC e gravidade dos sintomas depressivos (r = −0,041 [− 0,143; 0,062]), esses achados correlacionais adicionais são limitados a amostras não clínicas. As descobertas têm implicações clínicas importantes, incluindo um risco potencialmente aumentado de futuros problemas de saúde física e também a identificação de potenciais novos alvos de tratamento na depressão infantil e adolescente.

Aqui mostramos que adolescentes com depressão apresentam diminuição da IC-VFC no estado de repouso, um achado consistente com a literatura de adultos. Embora a atividade vagal – indexada por medidas de IC-VFC – esteja relacionada à gravidade da depressão em adultos, tal relação não foi observada em crianças e adolescentes. No entanto, os estudos existentes que examinam a correlação entre a atividade vagal e os sintomas depressivos em crianças e adolescentes baseiam-se apenas em amostras não clínicas. Os estudos também se caracterizam por diferenças metodológicas na avaliação dos sintomas depressivos e na faixa etária estudada. Estudos futuros são necessários para ampliar a literatura existente em diversas direções importantes; estudos sobre possíveis diferenças relacionadas à idade e ao sexo, em particular, provavelmente darão frutos. Além disso, estudos longitudinais precisam abordar as vias causais que ligam a depressão e a IC-VFC em crianças e adolescentes. O estado de repouso e a IC-VFC mediada vagamente são de grande interesse para os pesquisadores que se concentram nos mecanismos potenciais subjacentes à psicopatologia depressiva e sua aplicação ao estudo da psicopatologia do desenvolvimento pode ajudar a facilitar a avaliação psiquiátrica e o resultado do tratamento. Nossos achados apoiam o uso do IC-VFC para auxiliar no diagnóstico e monitoramento do resultado do tratamento em crianças e adolescentes clinicamente deprimidos. Visar a redução da atividade vagal em crianças e adolescentes deprimidos (ou seja, aumentando a atividade física) pode ser um acréscimo às opções atuais de tratamento. Além disso, o uso de EETNV [estimulação elétrica transcutânea do nervo vago] pode oferecer um tratamento de terceira linha promissor para crianças e adolescentes deprimidos que não respondem à farmacoterapia ou psicoterapia. Estudos de prova de conceito sobre o uso de EETNV nesta faixa etária são incentivados.

Os transtornos de ansiedade estão associados à redução da variabilidade da frequência cardíaca: uma meta-análise

Chalmers, J. A., Quintana, D. S., Abbott, M. J. A., & Kemp, A. H. (2014). Anxiety disorders are associated with reduced heart rate variability: a meta-analysis. Frontiers in psychiatry, 5, 80. doi: https://doi.org/10.3389/fpsyt.2014.00080

Artigo original

Antecedentes: Os transtornos de ansiedade aumentam o risco de futuras doenças cardiovasculares (DCV) e mortalidade, mesmo após o controle de fatores de confusão, incluindo tabagismo, estilo de vida e status socioeconômico, e independentemente de um histórico de distúrbios médicos. Embora a função vagal prejudicada, indicada por reduções na variabilidade da frequência cardíaca (VFC), possa ser um mecanismo que liga os transtornos de ansiedade às DCV, estudos anteriores relataram resultados inconsistentes, destacando a necessidade de meta-análise.

Método: Estudos comparando registros de VFC em estado de repouso em pacientes com transtorno de ansiedade como diagnóstico primário e controles saudáveis foram considerados para meta-análise.

Resultados: As meta-análises foram baseadas em 36 artigos, incluindo 2.086 pacientes com transtorno de ansiedade e 2.294 controles. No geral, os transtornos de ansiedade foram caracterizados por menor VFC [alta frequência (HF): g de Hedges = −0,29. IC 95%: −0,41 a −0,17, p < 0,001; domínio do tempo: g de Hedges = −0,45, IC 95%: −0,57 a −0,33, p < 0,001] do que os controles. Transtorno de pânico (n = 447), transtorno de estresse pós-traumático (n = 192), transtorno de ansiedade generalizada (n = 68) e transtorno de ansiedade social (n = 90), mas não transtorno obsessivo-compulsivo (n = 40), apresentaram reduções na VFC da IC em relação aos controles (todos ps < 0,001).

Impacto da depressão e do tratamento antidepressivo na variabilidade da frequência cardíaca: uma revisão e meta-análise

Kemp, A. H., Quintana, D. S., Gray, M. A., Felmingham, K. L., Brown, K., & Gatt, J. M. (2010). Impact of depression and antidepressant treatment on heart rate variability: a review and meta-analysis. Biological psychiatry, 67(11), 1067-1074. doi: https://doi.org/10.1016/j.biopsych.2009.12.012

Artigo original

Fundamento: A depressão está associada a um aumento na probabilidade de eventos cardíacos; no entanto, os estudos que investigam a relação entre depressão e variabilidade da frequência cardíaca (VFC) geralmente se concentram em pacientes com doença cardiovascular (DCV). O objetivo do presente relatório é examinar com meta-análise o impacto da depressão e do tratamento antidepressivo na VFC em pacientes deprimidos sem DCV.

Métodos: Estudos comparando 1) a VFC em pacientes com transtorno depressivo maior e indivíduos de controle saudáveis e 2) a VFC de pacientes com transtorno depressivo maior antes e depois do tratamento foram considerados para meta-análise.

Resultados: As metanálises foram baseadas em 18 artigos que atenderam aos critérios de inclusão, compreendendo um total de 673 participantes deprimidos e 407 participantes saudáveis de comparação. Os participantes com depressão apresentaram menor VFC (frequência temporal: g de Hedges 0,301, p 0,001; alta frequência: g de Hedges 0,293, p 0,001; não linear: g de Hedges 1,955, p 0,05; índice de Valsalva: g de Hedges 0,712, p 0,001) do que indivíduos de controle saudáveis, e a gravidade da depressão foi negativamente correlacionada com a VFC (r 0,354, p 0,001). A medicação tricíclica diminuiu a VFC, embora os inibidores da recaptação da serotonina, a mirtazapina e a nefazodona não tenham tido impacto significativo na VFC, apesar da resposta do paciente ao tratamento.

A depressão sem DCV está associada à redução da VFC, que diminui com o aumento da gravidade da depressão, mais aparente com medidas não lineares da VFC. Criticamente, uma variedade de tratamentos antidepressivos não resolvem essas diminuições, apesar da resolução dos sintomas, destacando que os medicamentos antidepressivos podem não ter efeitos cardioprotetores mediados pela VFC e a necessidade de identificar indivíduos em risco entre os pacientes em remissão.

Transtorno de personalidade borderline e regulação emocional: insights da teoria polivagal

Austin, M. A., Riniolo, T. C., & Porges, S. W. (2007). Borderline personality disorder and emotion regulation: Insights from the Polyvagal Theory. Brain and cognition, 65(1), 69-76. doi: https://doi.org/10.1016/j.bandc.2006.05.007

Artigo original

O presente estudo fornece a primeira evidência publicada de que o componente parassimpático do sistema nervoso autônomo diferencia os perfis de resposta entre indivíduos diagnosticados com transtorno de personalidade borderline (TPB) e controles. Arritmia sinusal respiratória (ASR), um marcador não invasivo da influência das fibras vagais mielinizadas no coração, e período cardíaco foram coletados durante a apresentação de clipes de filmes de conteúdo emocional variado. Os grupos TPB e controle apresentaram níveis iniciais de ASR e período cardíaco semelhantes. Porém, durante o experimento os grupos exibiram trajetórias contrastantes, com o grupo TPB diminuindo a ASR e o período cardíaco e o grupo controle aumentando a ASR e o período cardíaco. Ao final do experimento, os grupos diferiram significativamente tanto no período ASR quanto no período cardíaco. A correlação entre as alterações na ASR e no período cardíaco foi significativa apenas para o grupo controle, sugerindo que os mecanismos vagais mediaram as respostas do período cardíaco apenas no grupo controle. As descobertas foram consistentes com a Teoria Polivagal [Porges, S. W. (1995). Orientando-se em um mundo defensivo: Modificações mamíferas de nossa herança evolutiva: Uma Teoria Polivagal. Psicofisiologia, 32, 301–318; Porges, SW (2001). A Teoria Polivagal: Substratos filogenéticos de um sistema nervoso social. Jornal Internacional de Psicofisiologia, 42, 123–146; Porges, SW (2003). Engajamento social e apego: uma perspectiva filogenética. Annals of the New York Academy of Sciences, 1008, 31–47.], ilustrando diferentes mudanças adaptativas no estado autonômico ao longo do experimento. O grupo TPB terminou num estado fisiológico que apoia os comportamentos de mobilização de luta e fuga, enquanto o grupo de controlo terminou num estado fisiológico que apoia os comportamentos de envolvimento social. Esses achados são consistentes com outros estudos publicados que demonstram regulação vagal atípica do coração com outros transtornos psiquiátricos.

Confira também as publicações apresentadas na plataforma do Polyvagal Institute nosso parceiro americano

PVI - Web

“Se você quer melhorar o mundo, comece fazendo com que as pessoas se sintam mais seguras” Stephen Porges

DESCRIÇÃO DE PORGES EM SEU ULTIMO ARTIGO

“Se você quer melhorar o mundo, comece fazendo com que as pessoas se sintam mais seguras”
Stephen Porges